Chutando a escada: para entender a China “liberal”
e os EUA “protecionistas”
Publicado originalmente em 9
Ha-Joon
Chang, brilhante economista e professor de Cambridge, traz em seu livro
“Chutando a Escada” uma excelente referência para quem se interessa por lições
da história para entender o mundo contemporâneo. A partir de uma rica e
detalhada análise do papel do governo nos processos mais bem sucedidos de
industrialização, mostra como uma série de estratégias nacionalistas e
protecionistas foi fundamental para alcançar o desenvolvimento econômico nos
países hoje ricos. Os casos mais importantes analisados por Chang são a
Inglaterra e os Estados Unidos, ambos considerados, equivocadamente segundo o
autor, como exemplos de sucesso econômico promovido pelo liberalismo.
Chang demonstra, por exemplo, como uma série de medidas protecionistas inglesas nos séculos XV e XVI contra a próspera indústria de tecidos nos países baixos, especialmente em Bruges e Ghent no que hoje é a Bélgica, foram fundamentais para o desenvolvimento ingles. Medidas como a proibição de exportação de lã bruta da Inglaterra para o continente e fortes restrições à entrada de tecidos produzidos nos países baixos teriam sido fundamentais para estimular as tecelagens inglesas. Como argumenta Chang, a indústria têxtil que seria depois a base da revolução industrial inglesa só foi capaz de suplantar a potência dos países baixos a partir de uma miríade de ações de proteção e estímulo industrial de diversas monarquias inglesas, especialmente de Henrique VII (1485-1509) e Elizabeth I (1558-1603), isto para não mencionar o mercantilismo ferrenho praticado pelo primeiro ministro Robert Walpole (1714-1727) durante o reinado de George I (1714-1727).
O caso americano também é curioso. Alexander Hamilton, o primeiro secretário do tesouro norte-americano (1789-1795), está entre um dos principais formuladores de medidas protecionistas que estimularam a instalação e desenvolvimento da indústria manufatureira norte-americana. Seu conhecido trabalho Reports of the Secretary of the treasury on the subject of manufactures (1791) contem muitas das idéias que seriam depois formalizadas por Friedrich List (1789-1846) no argumento da proteção a indústria infante presente em seu trabalho The National System of Political Economy (1841). O projeto dos Estados Unidos, especialmente dos estados do norte, se contrapunha frontalmente às recomendações do liberalismo inglês que, segundo alguns americanos, era produzido para exportação e não consumo interno. #carreira #tecnologia #educação #industria40 #business #economia
Chang demonstra, por exemplo, como uma série de medidas protecionistas inglesas nos séculos XV e XVI contra a próspera indústria de tecidos nos países baixos, especialmente em Bruges e Ghent no que hoje é a Bélgica, foram fundamentais para o desenvolvimento ingles. Medidas como a proibição de exportação de lã bruta da Inglaterra para o continente e fortes restrições à entrada de tecidos produzidos nos países baixos teriam sido fundamentais para estimular as tecelagens inglesas. Como argumenta Chang, a indústria têxtil que seria depois a base da revolução industrial inglesa só foi capaz de suplantar a potência dos países baixos a partir de uma miríade de ações de proteção e estímulo industrial de diversas monarquias inglesas, especialmente de Henrique VII (1485-1509) e Elizabeth I (1558-1603), isto para não mencionar o mercantilismo ferrenho praticado pelo primeiro ministro Robert Walpole (1714-1727) durante o reinado de George I (1714-1727).
O caso americano também é curioso. Alexander Hamilton, o primeiro secretário do tesouro norte-americano (1789-1795), está entre um dos principais formuladores de medidas protecionistas que estimularam a instalação e desenvolvimento da indústria manufatureira norte-americana. Seu conhecido trabalho Reports of the Secretary of the treasury on the subject of manufactures (1791) contem muitas das idéias que seriam depois formalizadas por Friedrich List (1789-1846) no argumento da proteção a indústria infante presente em seu trabalho The National System of Political Economy (1841). O projeto dos Estados Unidos, especialmente dos estados do norte, se contrapunha frontalmente às recomendações do liberalismo inglês que, segundo alguns americanos, era produzido para exportação e não consumo interno. #carreira #tecnologia #educação #industria40 #business #economia
Paulo Gala
Professor de Economia da FGV/EESP
Twitter @paulogala