Chegada do ChatGPT reacende a eterna ‘DR’ entre tecnologia e humanidade
Por: Wagner Fonseca - Jornalista e ghostwriter:
Escrevo desde a adolescência, quando sequer sabia
haver profissões que me permitiriam um dia conciliar vocação e sobrevivência.
Uma decisão assim, a ser levada a sério para o resto da vida, anos depois teria
um segundo momento inesquecível.
Foi quando minha potente máquina de escrever manual
foi substituída por uma elétrica portátil - que até apagava erros - e
finalmente por aquele símbolo imponente da evolução tecnológica humana: um
poderoso microcomputador XT, cuja memória hoje sequer teria espaço para
armazenar uma singela foto de celular, além de demorar bons minutos para finalmente
… esquentar?
Bem, após aquela pioneira tela verde, que chegava a
doer nos olhos após minutos de uso, inúmeras gerações de máquinas maravilhosas
chegaram. O antes soberano PC encolheu e um notebook hoje comporta mais
informação que os gigantescos mainframes dos anos 1970, solenemente hospedados
em grandes salas exclusivas, onde apenas técnicos e outros especialistas podiam
entrar.
Chegamos a 2023, e depois de um longo voo de cruzeiro,
no qual a tecnologia deu mostras de sua força no campo macro, modificando nossa
forma de trabalhar, se locomover, bater papo, ir ao banco etc., eis que entra
em nossas vidas um novo capítulo dessa história, a Inteligência Artificial.
Ela já estava embutida no nosso dia a dia, quando uma
loja aprovava - ou não - o crédito de alguém em segundos, sem fazer uma ligação
telefônica sequer. Ou ainda, quando fazíamos uma consulta pretensamente anônima
na internet e, daquele momento em diante, choviam ofertas tentadoras em nosso
e-mail daquele exato produto ou serviço, sem nada a ver com uma feliz
coincidência, é claro.
Só que agora estamos sendo apresentados ao ChatGPT, um
ferramenta de IA que, grosso modo, escreve e fala, características com as quais
deve substituir a ação humana numa série de situações ainda indefinida, tão
novo tudo isso ainda é aqui e lá fora.
Polêmica à parte - pois cientistas de vários
segmentos, até mesmo da própria área de IA, acham ser a hora de dar um tempo na
introdução do ChatGPT em nossas vidas -
parece mesmo ser necessária uma reflexão especial em momentos
assim, e tantos outros que a escalada tecnológica certamente ainda nos
reserva..
Afinal, invenções revolucionárias costumam modificar o
perfil de profissões, costumes, dinâmicas sociais e o saldo resultante disso
tudo surge do balanço entre os prós e contras de tantas mudanças, muitas delas
se aprimorando e outras simplesmente desaparecendo ao longo do tempo.
Uma coisa é certa, radicalismo nessa hora equivale a
simplesmente lutar contra a evolução, algo que eventuais críticos da máquina de
escrever, do fax, do telégrafo e outras peças hoje de museu, talvez agora até
se envergonhem, por um dia ter tentado sabotar facilidades do dia a dia das
quais elas próprias se tornariam beneficiárias.
A propósito, acho que ninguém desistiu de escrever quando
se viu na frente de um teclado de computador e agora, certamente, não deixará
de pensar só porque máquinas, no máximo, irão imitar essa nossa especialidade,
ao mesmo tempo nos liberando mais tempo para exercer valores humanos igualmente essenciais, porém, inimitáveis.