quarta-feira, 28 de julho de 2021

A Pandemia antecipou o futuro

 Por: Natália Marques:

 Alguns estudiosos consideram que a Globalização foi um processo gradativo que se divide em três fases: tendo início no século XV com o Capitalismo Comercial e crescimento do mercantilismo; depois com o modelo industrial Europeu e as conquistas de territórios em outros continentes; e a Terceira Revolução Industrial, com a disseminação de novas tecnologias e consolidação do sistema capitalista e a queda do muro de Berlim. Para outros, esta última fase é a que realmente marca a globalização.

A verdade é que o desenvolvimento dos meios de comunicação, a expansão e inovação constante das redes tornaram o mundo cada vez mais integrado.

No início do século XXI (2000), o Sociólogo Domenico De Masi lançou seu livro “O Ócio Criativo”, onde discute o modelo de idolatria ao trabalho e propõe uma mudança que busque integrar trabalho, estudo e lazer. Uma sociedade baseada no crescimento do tempo livre em contraponto ao trabalho decrescente, aliado à uma melhor distribuição das riquezas e a sua produção de forma eficiente. Em seu livro “O Futuro do Trabalho”, propõe uma sociedade onde conhecer conte mais do que fazer, o que é permitido pelas novas tecnologias, integrando a vida, o ócio e o trabalho. Ele acredita que o progresso da sociedade visa maior qualidade de vida e a felicidade da população, capaz de exercer o ócio criativo, a meditação, o lazer, o amor, a contemplação da beleza, a amizade e a convivialidade.

Considerando o pensamento deste autor, observamos que a Pandemia nos obrigou a rever todos os conceitos que foram impostos pela sociedade pós-industrial ao mundo do trabalho.

Podemos considerar que o mundo não se tornou um caos maior com a Pandemia, por conta dos sistemas integrados de comunicação que nos trouxeram também novas propostas de trabalho, convívio social e lazer.

Almejamos a retomada de nossas vidas sem as limitações impostas pelo COVID, mas carregaremos aprendizados e novos hábitos.

A necessidade de adaptação a esses tempos difíceis nos trouxe a necessidade de ter em nossos lares, além de uma estação de trabalho, espaços diferentes (de estudo, de lazer, de recreação infantil e de restaurante) e de repensar o modelo de trabalho existente, com a valorização de nossas casas.

Muitas empresas já estão chancelando o trabalho “in home” como uma nova plataforma, enquanto outras apostam na performance híbrida. Poucas voltarão ao sistema anterior.

Podemos dizer que a reflexão de Domenico De Masi de certa forma aconteceu, exceto no ponto de vista econômico, pois no plano financeiro e educacional abriu-se um distanciamento ainda maior para as classes menos favorecidas.

Em uma entrevista em setembro de 2020, De Masi coloca de forma clara o seu pensamento sobre o momento de Pandemia: ''A saúde vem antes da democracia; e a democracia antes da economia. Os recursos do planeta têm limite, e nós, ao invés de lutar uns contra os outros, faríamos bem em nos unir contra três inimigos comuns: o vírus, o aquecimento global e as desigualdades. Quanto à economia, o coronavírus nos ensinou a importância da intervenção pública e a prioridade do necessário sobre o supérfluo''.

Agora com atendimentos predominantemente online de meus clientes, me permito, em alguns momentos, estar a quilômetros de minha casa, numa cidade litorânea, longe de meus livros. Além disso, só foi possível escrever este artigo graças à pesquisa de internet, que reavivou todas as leituras que fiz deste autor, trabalhando e fazendo jus ao ócio criativo.

 

 Natalia Marques Antunes - Psicóloga, Coach e Especialista em Resiliência

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